A culpa não é só dele

Parece que história de Ronaldinho Gaúcho no Barcelona está perto do fim. O jogador está lesionado e só volta a atuar na próxima temporada, provavelmente vestindo outra camisa, e provavelmente a do Milan.
A tendência do torcedor brasileiro, acostumado trocar de ídolos como troca de roupa, é dizer que o Gaúcho é amarelão, já era, está bichado, etc. Mas é ingenuidade acreditar que o meia-atacante é o único responsável por essa derrocada na carreira. A culpa não é só dele.
Ronaldinho nunca mais foi o mesmo desde a Copa do Mundo de 2006. Ele chegou à competição na condição de maior astro do time mais estrelado. E saiu da Alemanha sem fazer gols, e com um futebol medíocre para quem era o melhor jogador do mundo na época.
De volta à Catalunha, o camisa 10 do Barça deixou de fazer suas jogadas mágicas e resolver as partidas. Os Culés perderam um Campeonato Espanhol imperdível para o Real Madrid de Fabio Capello, caíram nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões, e o clima degringolou.
Mas a diretoria blaugrana pouco fez para ajudar. O técnico Frank Rijkaard, que já havia demonstrado que não sabe gerenciar egos foi mantido, e ao invés de tentar controlar a guerra das estrelas dentro do clube, Thierry Henry chegou para colocar mais uma vaidade na fogueira.
A torcida azul-grená também colaborou. Dando uma de corinthianos, esqueceram o que Ronaldinho já havia feito com a camisa do clube e passaram a vaiar e cobrar o atleta sem parar. Obviamente, em vários momentos a atitude do jogador não foi nada profissional, com presenças freqüentes na noite catalã.
Por essas e outras, Ronaldinho tem que sair do Barcelona. É o melhor para ele e para o clube. O Barça precisa se reformular, tentar reencontrar o espírito vencedor de duas temporadas atrás. Já o Gaúcho precisa reencontrar o seu melhor futebol, aquele que combinava jogadas fantásticas com objetividade e resultados em campo. Diferente das enceradeiras e focas de circo que pipocam por aí, fazendo malabarismos desnecessários com a bola.
Na Itália, seu mais provável destino, Ronaldinho vai encontrar um futebol muito mais duro de ser jogado do que o Espanhol. Se não colocar a cabeça no lugar, a tendência é que o futebol dele só piore. E é por isso que eu acredito que ele resolva voltar a jogar bola.

PS – Vai ser engraçado ver o Carlo Ancelotti montar o time do Milan no ano que vem. Além da provável chegada de Ronaldinho, Shevchenko também parece estar acertando seu retorno à Milão. E aí, como alinhar Kaká, Ronaldinho, Pato, Shevchenko e (talvez) Ronaldo sem mexer nos intocáveis Gattuso e Pirlo?

PS 2 – Ronaldinho não é o único ídolo do Barcelona que deixa o clube pela porta dos fundos. Só na história recente do clube, o mesmo aconteceu com Ronaldo, Figo e Rivaldo. Impossível que o time não tenha uma boa parcela de culpa.

Rafael Porto